segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A importância do trabalho do psicólogo em tragédias

A Importância do Trabalho do Psicólogo em Tragédias

“Tão importante quanto o socorro médico e o suporte com alimentos e abrigo, é a ajuda psicológica às vítimas de crises humanitárias. É preciso reorganizar a comunidade para que a vida volte ao normal e atender pacientes com estresse pós-traumático”.  Jornalista Sucena Shkrada Resk

A depressão, o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e as doenças psicossomáticas como, por exemplo, a lúpus é muito comum aparecer em vítimas de tragédias como o incêndio em Santa Maria (incêndios em geral de grande proporção), terremotos, enchentes que causam altas destruições, em familiares de vítimas de queda de avião, tsunamis e outras tragédias que trazem luto para uma grande quantidade de famílias. São doenças que podem aparecer ou não. 

O TEPT é um Transtorno de Ansiedade que surge em pessoas que vivenciaram ou testemunharam momentos que terminou em morte; que sofreram ameaças físicas ou testemunharam alguma ameaça a outra pessoa; que tiveram ferimentos ou ameaças de que seria ferido e que tais situações geraram na pessoa uma reação de intenso medo ou horror. Essas cenas traumáticas são constantemente revividas nas recordações, nos sonhos, no sofrimento psicológico, em algo que lembre o trauma, na sensação de que tudo está acontecendo novamente. Quem passa por isso faz de tudo para evitar acontecimentos relacionados ao trauma e podem apresentar irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração, resposta de sobressalto exagerada e hipervigilância (tais situações passam a ser preocupantes quando tais sintomas continuam na pessoa a mais de um mês após o acontecimento da tragédia). 

O trabalho do psicólogo é de extrema importância para os sobreviventes e os familiares. Há pais que perderam todos os seus filhos num acontecimento de crise aguda como o incêndio de Santa Maria - RS. A Psicologia deve entrar em ação para prevenir esse tipo de situação e auxiliar as vítimas na reconstrução de suas vidas. É necessário resgatar essas pessoas psicologicamente. Então, nesse caso, o trabalho é terapêutico e ajuda a elaborar o luto. 

Para Worden (1991), que fala sobre o processo de luto, são muitos os sentimentos que surgem neste processo doloroso:
  • ·         São os sentimentos de tristeza que na maioria das vezes é expressa pelo choro.
  • ·         Sentimento de raiva, principalmente para quem foi um sobrevivente na tragédia.
  • ·         Sentimento de culpa; que são os porquês em geral como: Por que fomos à boate? Por que não mudamos daqui antes? Por que não o levamos para o hospital mais cedo? Por que briguei com ele naquela hora entre outras perguntas que autotortura quem se sente culpado.
  • ·         Ansiedade vinda através de uma sensação de insegurança, e podendo até, em algumas pessoas, surgir ataques de pânicos e quando mais persistentes forem tais ataques, pode até se transformar em algo patológico.
  • ·          Um sentimento de solidão, principalmente para os sobreviventes e para as pessoas bem mais próximas dos mortos (cônjuge, filhos, pais).
  • ·         Fadiga, que afeta ainda mais quem tem uma vida mais ativa.
  • ·         Desamparo no início do processo do luto.
  • ·         Estado de choque, que ocorre mais em mortes inesperadas.
  • ·         Anseio pela pessoa perdida.
  • ·          Emancipação (NÃO OCORRE MUITO, SÓ EM CASO DA PESSOA ESTÁ LIVRE DE QUEM FALECEU, PESSOAS QUE TEM ESTES SENTIMENTOS MUITAS DAS VEZES FORAM PREJUDICADAS POR QUEM PARTIU – ESTUPRO, ROUBO, ASSASSINATOS, ENTRE OUTROS).
  • ·         Alívio (SÓ OCORRE, QUANDO O FINADO SOFREU MUITO FISICAMENTE ANTES DE FALECER).
  • ·         Torpor, onde as sensações da pessoa são bloqueadas na hora da notícia da morte, fazendo com que ela não tenha nenhum sentimento expresso naquele momento. Isto é algo positivo, pois evita a pessoa da dor insuportável.

Um artigo de 2004 (Melo, R. Processo de Luto) relata que após a perda de um ente querido várias vítimas podem ter algumas sensações físicas como aperto no peito, vazio no estômago, nó na garganta, hipersensibilidade ao barulho, boca seca, falta de energia, falta de fôlego, fraqueza muscular e sensação de despersonalização (nada parece real). O trabalho do psicólogo neste momento é essencial porque ele ajuda a pessoa a passar por este processo de luto através de quatro tarefas essenciais (Worden, 1991), que é aceitar a realidade da perda, trabalhar a dor que vem da perda, ajudar as vítimas a se ajustarem em um ambiente em que o falecido está ausente e também transferir emocionalmente o falecido e prosseguir a vida. Quando estas quatro tarefas são completadas, segundo o artigo, termina-se assim o processo de luto.

O resultado que o psicólogo pode trazer para quem perdeu uma pessoa, ou numa grande tragédia ou até mesmo em outras situações, é fazer com que tal pessoa depois do processo de luto tenha crescimento pessoal e superação diante o acontecido, entre outros resultados (acredito que isto também varia de pessoa para pessoa). 

Diante de uma tragédia, os profissionais da área da Psicologia são treinados para identificarem os efeitos psicológicos de situações de rompimento e prevenção de situações de grande trauma, com indivíduos e grupos em situações de emergência e de crises. Por isso é necessário incluir os profissionais que tenham conhecimentos dos transtornos psicológicos relacionados a estas situações de crise (assalto, incêndios, enchentes, terrorismo, sequestro, entre outros) e os seus sintomas principais (sempre se deve manter um olhar sobre a saúde mental dessas vítimas) como: o trauma psíquico, o transtorno de estresse pós-traumático e transtorno dissociativo. A Psicologia deve entrar em ação para auxiliar as vítimas na reconstrução de suas vidas. A divulgação de um estudo pela University of Miami revelou que as crianças estão mais vulneráveis ao quadro do que os adultos.

Referência Bibliográfica:
Sanders, C. (1999). Grief. The Mourning After: Dealing with Adult Bereavement (2nd ed.). New York: Jonh Wiley & Sons, Inc..
Worden, J. (1991). Grief Counseling and Grief Therapy. A Handbook for the Mental Health Practitioner (2nd ed.). London: Routledge.

Ajuda psicológica em Santa Maria RS

As pessoas (sobreviventes, ajudantes, taxistas e coveiros) que de alguma maneira tiveram contato com o incidente da boate Kiss, também procuraram o serviço de auxílio do núcleo psicológico de emergência, com uma equipe de 130 pessoas e que funciona 24 horas por dia. Estes especialistas visitaram casas de familiares, hospitais e acompanharam os enterros e velórios dos mortos no incêndio da boate Kiss. 

 

"Nem todas as pessoas precisam de atendimento de saúde mental. Algumas têm suas redes sociais, suas redes psíquicas, redes religiosas que resolvem. Quase 70% das pessoas poderão resolver isso em suas redes afetivas", afirmou Maria de Fátima Fischer, psicóloga e representante do Estado do Rio Grande do Sul no núcleo, à BBC Brasil. "Agora, pouco mais de 20% das pessoas envolvidas diretamente, indiretamente ou mesmo que não tiveram relação com o evento, precisarão de algum cuidado. Já entre 1% e 3% das pessoas podem desenvolver casos graves de saúde mental", acrescentou a psicóloga.

Ela conta que, além de atender aos parentes e amigos das vítimas, o programa vem auxiliando bombeiros e policiais que atuaram no resgate, médicos, coveiros responsáveis pelos enterros e até taxistas.

"Eles estão fazendo o trabalho deles e têm que aguentar essa barra. Eles têm que ouvir muitas coisas, alguns perderam parentes", disse Maria de Fátima, que afirmou que o grupo está em contato com associações de taxistas para oferecer auxílio. Professores universitários que perderam seus alunos também serão orientados pelo programa.


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